FOUCAULT E A DEFINIÇÃO DE FILOSOFIA COMO QUESTIONAMENTO SOBRE A VERDADE
FOUCAULT E A DEFINIÇÃO DE FILOSOFIA COMO
QUESTIONAMENTO SOBRE A VERDADE
1 - A FILOSOFIA É UM QUESTIONAMENTO SOBRE O CONHECIMENTO E A VERDADE
A filosofia *
sempre esteve ligada no Ocidente ao problema do conhecimento. Não se escapa
disso. Quem se pretender filósofo e não se colocar a questão “o que é o conhecimento?”
ou “o que é a verdade?”, em que sentido se poderia dizer que é um filósofo? E
mesmo que eu diga que não sou filósofo, se for da verdade que me ocupo, eu sou
apesar de tudo filósofo.
FOUCAULT,
Michel. Sobre a geografia. In: Microfísica
do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.p. 156.
2 - A VERDADE
ESTÁ LIGADA CIRCULARMENTE AO PODER:
O PODER PRODUZ E APÓIA OS DISCURSOS DE VERDADE; POR SUA VEZ, A VERDADE PRODUZ E
APÓIA EFEITOS DE PODER
Por "verdade", entendo * um
conjunto de procedimentos regulados para a produção, a lei, a repartição, a
circulação e o funcionamento do enunciados. A "verdade" está circularmente ligada a sistemas de
poder, que a produzem e apóiam, e a efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem.
FOUCAULT,
Michel. FOUCAULT, Michel. Verdade e poder. In: Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.p. 14.
Não há exercício
de poder sem * discursos de verdade que funcionam neste poder, a partir e
através dele.
FOUCAULT,
Michel. Em defesa da sociedade. São
Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 28.
3 – HÁ MILÊNIOS,
A FILOSOFIA QUESTIONA COMO DEVERIA SER
O COMPORTAMENTO DAS PESSOAS NA VIDA SOCIAL, ISTO É, A FILOSOFIA QUESTIONA SOBRE
A VERDADE MORAL; PARA FOUCAULT, A
FILOSOFIA PRECISA TAMBÉM REFLETIR SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE AS VERDADES MORAIS E O
PODER .
O que é a filosofia senão uma maneira
de refletir * sobre nossa relação com a verdade? * É preciso acrescentar; ela é
uma maneira de perguntarmos: se esta é a relação que temos com verdade, como devemos nos conduzir? Acredito que
se fez e que se faz atualmente um trabalho considerável e múltiplo, que
modifica simultaneamente nossa relação com a verdade e nossa maneira de nos
conduzirmos.
FOUCAULT,
Michel. O filósofo mascarado. In: Ditos e
escritos II. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. p. 305 e 306.
Por
"moral" entende-se um conjunto de valores e regras de ação propostas
aos indivíduos e grupos por intermédio de aparelhos prescritivos diversos, como
podem ser a família, as instituições educativas, as Igrejas etc. * É necessário
também admitir que em certas morais a importância * deve ser procurada do lado
das instâncias de autoridade que fazem valer esse código, que o impõem à
aprendizagem e à observação, que sancionam as infrações; nessas condições, a
subjetivação se efetua, no essencial, de uma forma quase jurídica, * o sujeito
moral * deve se submeter sob pena de incorrer em faltas que o expõem a um
castigo.
FOUCAULT,
Michel. História da sexualidade 2.
Rio de janeiro: Edições Graal, 1984. p. 26 e 29.
4 - A FILOSOFIA
EM SUA HISTÓRIA SEMPRE REFLETIU SOBRE O QUE É A CIÊNCIA. PARA FOUCAULT, A
FILOSOFIA PRECISA TAMBÉM REFLETIR SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE AS VERDADES CIENTÍFICAS E O PODER.
Trata-se de saber que efeitos de poder circulam entre os
enunciados científicos; qual é o seu regime
interior de poder.
FOUCAULT,
Michel. FOUCAULT, Michel. Verdade e poder. In: Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. p. 4.
Procurei saber como o sujeito humano
entrava nos jogos de verdade, tivessem estes a forma de uma ciência ou se
referissem a um modelo científico, ou fossem como os encontrados nas
instituições ou nas práticas de controle. * O problema das relações entre o
sujeito e os jogos de verdade havia sido até então examinado por mim a partir *
de práticas coercitivas - como no caso da psiquiatria e do sistema penitenciário.
* Procurei mostrar como o próprio sujeito se constituía, nessa ou naquela forma
determinada, como sujeito louco ou são, como sujeito delinquente ou não,
através de um certo número de práticas, que eram os jogos de verdade, práticas
de poder etc. * Quando falo de relações de poder e de jogos de verdade, não
quero de forma alguma dizer que os jogos de verdade não passem * de relações de
poder que se quer mascarar - esta seria uma caricatura assustadora. Meu
problema é, como já disse, saber como os jogos de verdade podem se situar e
estar ligados a relações de poder. Pode-se mostrar, por exemplo, que a
medicalização da loucura, ou seja, a organização de um saber médico em torno
dos indivíduos designados como loucos, esteve ligada a toda uma série de
processos sociais, de ordem econômica em um dado momento, mas também a instituições
e a práticas de poder. Esse fato não abala de forma alguma a validade
científica ou a eficácia terapêutica da psiquiatria: ele não a garante, mas
tampouco a anula. Que a matemática, por exemplo, esteja ligada - de uma maneira
alias totalmente diferente da psiquiatria - às estruturas de poder, * não
significa de forma alguma que a matemática seja apenas um jogo de poder, mas
que o jogo de verdade da matemática esteja de uma certa maneira ligado * a
instituições de poder.
FOUCAULT,
Michel. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In Ditos e escritos V. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2006. p. 264, 275, 281 e 282
5 - A FILOSOFIA
EM SUA HISTÓRIA SEMPRE REFLETIU SOBRE A RELIGIÃO E AS QUESTÕES TRAZIDAS PELA
RELIGIÃO, COMO DEUS, MORAL, VIDA DEPOIS DA MORTE ETC. PARA FOUCAULT, A
FILOSOFIA PRECISA TAMBÉM REFLETIR SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE AS VERDADES RELIGIOSAS E O PODER.
Há * um poder que existe no Ocidente desde
a Idade Média, uma forma de poder que não é exatamente nem um poder político
nem jurídico, nem um poder econômico, nem um poder de dominação étnica, e que,
no entanto, teve grandes efeitos estruturantes dentro das nossas sociedades.
Esse poder é de origem religiosa, aquele que pretende conduzir e dirigir os
homens ao longo de toda a sua vida e em cada uma das circunstâncias desta vida,
um poder que consiste em querer controlar a vida dos homens em seus detalhes e
desenvolvimento, do nascimento à sua morte, e isso para lhes impor uma certa
maneira de se comportar, com a finalidade de garantir a sua salvação. É o que
poderíamos chamar de poder pastoral.
FOUCAULT,
Michel. A filosofia analítica da política. In: Ditos e escritos V. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.p.
51 e 52.
6 – PARA
FOUCAULT, A VERDADE SEMPRE MANTÉM ALGUMA RELAÇÃO COM O CONTEXTO SOCIAL,
POLÍTICO E HISTÓRICO EM QUE SURGIU; CONSTATANDO A MULTIPLICIDADE DAS VERDADES E
OS INTERESSES POLÍTICOS POR TRÁS DA VERDADE, FOUCAULT REALIZA UMA CERTA RELATIVIZAÇÃO DA VERDADE
A verdade é deste mundo; ela é
produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados
de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de
verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como
verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados
verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e
os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto
daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro.
FOUCAULT,
Michel. FOUCAULT, Michel. Verdade e poder. In: Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. p. 12.
7 – AO
RELACIONAR SABER E PODER, A FILOSOFIA QUESTIONA O DISCURSO QUE CADA SOCIEDADE
CHAMA DE “VERDADE”; POR ISSO, É SEMPRE POSSÍVEL QUE A FILOSOFIA EXERÇA UM PAPEL
POLÍTICO SUBVERSIVO E TRANSFORMADOR DENTRO DAS SOCIEDADES EM QUE É PRATICADA
O
filósofo não tem papel na sociedade. Não se pode situar seu pensamento em
relação ao * grupo. Sócrates é um excelente exemplo: a sociedade ateniense pôde
apenas lhe atribuir um * papel subversivo, seus questionamentos não podiam ser
admitidos pela ordem estabelecida.
FOUCAULT,
Michel. O que é um filósofo. In: Ditos e
escritos II. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.p. 34.
8 - FOUCAULT NÃO
PROPÕE NEM ACHA POSSÍVEL UMA VERDADE PURA, ISTO É, PURIFICADA DAS RELAÇÕES DE
PODER, POIS TODA E QUALQUER VERDADE RELACIONA-SE CIRCULARMENTE COM O PODER. MAS
FOUCAULT ACHA POSSÍVEL A PRODUÇÃO DE VERDADES QUE FUNCIONAM COMO PODERES DE
OPOSIÇÃO E CONTESTAÇÃO; FOUCAULT PROPÕE VERDADES DESVINCULADAS DAS FORMAS
ESTABELECIDAS DE PODER, QUE NÃO SE DEIXAM CAPTURAR PELO PODER ECONÔMICO,
POLÍTICO, RELIGIOSO, CIENTÍFICO, MILITAR, MIDIÁTICO ETC. DE UMA DETERMINADA
SOCIEDADE
Em nossas
sociedades * a verdade tem cinco características historicamente importantes:
(1) a “verdade” é centrada na forma do discurso científico e nas instituições
que o produzem; (2) está submetida a uma constante incitação econômica e
política (necessidade de verdade tanto para a produção econômica, quanto para o
poder político); (3) é objeto, de várias formas, de uma imensa difusão e de um
imenso consumo (circula nos aparelhos de educação ou de informação, cuja
extensão no corpo social é relativamente grande *); (4) é produzida e
transmitida sob o controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes
aparelhos políticos e econômicos (universidade, exército, escritura, meios de
comunicação); (5) enfim, é objeto de debate político e de confronto social (as
lutas ideológicas). *
O problema
político essencial para o intelectual * é saber se é possível constituir uma
nova política da verdade. O problema * é mudar * o regime político, econômico,
institucional de produção da verdade.
Não se trata de libertar a verdade de
todo sistema de poder – o que seria quimérico na medida em que a própria
verdade é poder - mas de desvincular o poder da verdade das formas de hegemonia
(sociais, econômicas, culturais) no interior das quais ela funciona no momento.
FOUCAULT,
Michel. Verdade e poder. In: Microfísica
do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979. 13 e 14.
* O asterisco indica que uma parte do texto original acima foi suprimida com finalidade didática, para que o conteúdo apresentado ao aluno fique mais claro.
LIDERANÇA POLÍTICA E DOUTRINAÇÃO DA VERDADE:
MÍDIA COMO INSTRUMENTO TECNOLÓGICO DE INTERNALIZAÇÃO DAS VERDADES ESTABELECIDAS:
IMPOSIÇÃO DAS VERDADES DE GÊNERO:
MODOS DE MANIFESTAÇÃO DA VERDADE: RELIGIÃO, MORAL, CIÊNCIA:
FOUCAULT (1926-1984), FILÓSOFO FRANCÊS:
↓
Spice Girls - Say You'll Be There
Michel Foucault, filósofo francês que sempre assumiu sua homossexualidade, morreu em 1984 de HIV, numa época em que a doença estava apenas começando a se difundir e não era plenamente conhecida e compreendida.
EDUCAÇÃO PARA A INTERNALIZAÇÃO DAS VERDADES ESTABELECIDAS:
EDUCAÇÃO "SEM PARTIDO" PARA A INTERNALIZAÇÃO DAS VERDADES ESTABELECIDAS:
GUERRA CULTURAL OU LUTA ENTRE AS VERDADES:
ARTICULAÇÃO POSSÍVEL ENTRE VERDADES HETEROGÊNEAS:
Informações úteis para o comentário escrito:
<b> conteúdo </b> – transforma o conteúdo em negrito;
<i> conteúdo </i> – transforma o conteúdo em itálico.
Adorei!
ResponderExcluirVictoria Caputi leu e adorou
ResponderExcluiramei as spice girls explicando foucault kkkkk
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