PERSPECTIVISMO EM NIETZSCHE
Perspectivismo: conceito que aparece em Nietzsche e está relacionado à crítica da verdade e à teoria do conhecimento em geral. Para Nietzsche, não existe um conhecimento absoluto ou completamente objetivo, mas, ao contrário disso, todo conhecimento é condicionado por múltiplos aspectos: psicológicos, históricos, culturais, econômicos etc. *
Nem nossa vontade nem nosso entendimento (e, por consequência, nem nosso conhecimento) estão livres de nossos valores, crenças e preferências, ou seja, do modo como vemos e sentimos as coisas. Isso não quer dizer exatamente que o conhecimento seja falso ou que não exista nenhum grau de certeza nele, mas, sim, que todo saber tem um aspecto inexoravelmente subjetivo. Isso faz de qualquer conhecimento, por mais próximo que esteja da realidade *, um tipo de interpretação, uma forma de leitura que não está isenta de tudo o que nos constitui como seres individuais e sociais.
Dizer que tudo é uma questão de perspectiva quer dizer, entre outras coisas, que existem muitas maneiras de ver e conceber uma mesma coisa. A verdade absoluta seria, nesse caso, um quimera ou simplesmente a imposição de um sentido único e arbitrário para alguma coisa. De fato, para Nietzsche, a verdade não deixa de ser o resultado de um embate de forças, a expressão da força vitoriosa que (na luta com outras forças) domina um campo social.
SCHÖPKE, Regina. Dicionário filosófico: conceitos fundamentais. São Paulo: Martins Fontes, 2010. p. 190.
Perspectivismo: concepção segundo a qual toda verdade só o é a partir * de uma perspectiva particular. Essa perspectiva pode ser * produzida por coisas como a natureza do nosso aparelho sensorial, ou pode ser concebida como algo determinado pela cultura, pela história, pela linguagem, pela classe ou pelo sexo. Já que podem existir muitas perspectivas, existem muitas famílias diferentes de verdades. O termo é frequentemente aplicado à filosofia de Nietzsche.
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. p. 296.
NIETZSCHE E O MULTPERSPECTIVISMO
Ver assim diferente, querer ver assim diferente, é uma grande disciplina e preparação do intelecto *. Não é * “observação desinteressada” (um absurdo sem sentido), mas * saber utilizar em prol do conhecimento a diversidade de perspectivas e interpretações afetivas. De agora em diante, senhores filósofos, guardemo-nos bem contra a antiga, perigosa fábula conceitual que estabelece * “razão pura”, “espiritualidade absoluta”, “conhecimento em si”; - tudo isso pede que se imagine um olho * absurdo e sem sentido. Existe apenas * visão perspectiva, apenas um “conhecer” perspectivo; e quanto mais afetos permitirmos falar sobre uma coisa, quanto mais olhos, diferentes olhos, soubermos utilizar para essa coisa, tanto mais completo será nosso “conceito” dela *. Mas eliminar a vontade inteiramente, suspender os afetos todos sem exceção, supondo que o conseguíssemos: como? – não seria castrar o intelecto?...
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 108 e 109.
Um estudo cultural * “multiperspectívico”; palavra esta que é comprida e feia, mas ainda o melhor conceito que encontramos para descrever o tipo de estudo cultural que estamos tentando desenvolver. * Em termos simples, um estudo cultural multiperspectívico utiliza uma ampla gama de estratégias textuais e críticas para interpretar, criticar e desconstruir as produções culturais em exame. O conceito inspira-se no perspectivismo de Nietzsche, segundo o qual toda interpretação é necessariamente mediada pela perspectiva de quem a faz, trazendo, portanto, em seu bojo, inevitavelmente, pressupostos, valores, preconceitos e limitações. * Devemos aprender “como empregar várias perspectivas e interpretações a serviço do conhecimento”. Para Nietzsche, “só há visão em perspectiva, só saber em perspectiva; e quanto mais sentimentos deixarmos que falem sobre uma coisa, mais completo será * o nosso ‘conceito’ dessa coisa *”. Expandindo esse convite à interpretação multiperspectívica, * Nietzsche argumenta: “cada elevação do homem traz consigo a superação de interpretações mais estreitas; esse fortalecimento e esse aumento de poder abrem novas perspectivas e significam a crença em novos horizontes”.
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Bauru, SP: EDUSC, 2001. p. 129 e 130.
ORIGEM ETIMOLÓGICA DA PALAVRA FILOSOFIA EM NIETZSCHE
Filosofia – “o amor à sua sabedoria”, tomando a palavra no sentido correto e justo *. Serão novos amigos da “verdade” estes filósofos vindouros? Muito provavelmente: pois até agora todos os filósofos amaram suas verdades. Mas com certeza não serão dogmáticos. Ofenderia seu orgulho, e também seu gosto, se a verdade fosse tida como verdade para todos: o que sempre foi, até hoje, desejo e sentido oculto de todas as aspirações dogmáticas. “Meu juízo é meu juízo: dificilmente um outro tem direito a ele” – poderia dizer um filósofo do futuro. É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos. “Bem” não é mais bem quando aparece na boca do vizinho. E como poderia haver um “bem comum”? O termo se contradiz: o que pode ser comum sempre terá pouco valor.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 13 e 47.
Os espíritos muito livres, os filósofos do futuro, permanecerão fiéis à sua vocação para a “filo sofia”, continuarão sendo amantes da verdade, como até agora foram todos os autênticos filósofos. Porém seguramente não serão dogmáticos: eles se manterão sobretudo zelosos de “sua” verdade, e não de uma “verdade para qualquer um” – pois essa foi a * aspiração de todos os dogmáticos. *
GIACOIA JUNIOR, Oswaldo. Nietzsche & Para além do bem e do mal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002. p. 41.
CRÍTICA DE NIETZSCHE AO PLATONISMO E
AO
CRISTIANISMO POR MEIO DA SUA FILOSOFIA
PERSPECTIVISTA
O desconhecimento ou o esquecimento - ou ainda a
dissimulação - de que as estimativas de valor são constituídas de maneira
perspectivística e interpretativa por diferentes modos de vida conduzem ao
dogmatismo, ou seja, à crença em valores universais dados e verdadeiros e à
pretensão de apresentar-se como o único modo válido de estimar valores.
Nietzsche critica precisamente essa "defeituosa ótica" que
"exige que nenhuma outra espécie
de ótica possa mais ter valor, após tornar sacrossanta a sua própria, usando as
palavras 'Deus', 'redenção', 'eternidade'".[1]
Essa reivindicação de exclusividade pressupõe o ocultamento * de que "em
toda estimativa de valor se trata de uma determinada perspectiva: conservação do indivíduo, de uma
comunidade, * de um Estado, de uma igreja, de uma crença, de uma cultura"[2].
Nietzsche se contrapõe à crença dogmática na universalidade
de valores absolutos e verdadeiros porque ela é hostil à vida - lembrando que a
palavra "vida", embora única, sempre significa uma efetiva
pluralidade de modos de vida. * O filósofo caracteriza a invenção platônica do
"bem em si" como o pior, mais persistente e mais perigoso dos erros
dogmáticos. Ao designar a ideia de "bem em si" não apenas como erro,
mas também como "invenção", Nietzsche faz ver em primeiro lugar que
não existe "bem em si" como algo dado. Além disso, ao adjetivá-la
como "o mais perigoso de todos os erros", indica que falar em
"bem em si" significa "negar o perspectivístico, a condição básica de toda vida"[3].
Tomar os valores como absolutos implica, pois, ir de encontra à condição básica
de toda a vida, ou seja, ao caráter perspectivístico de toda a vida.
É preciso, portanto, considerar "bem e mal como
perspectivísticos"[4].
Assim, Nietzsche também caracteriza a moral cristã, que se pretende em posse de
"medidas absolutas", como "o perigo dos perigos" e como
hostil à vida, na medida em que "toda vida repousa em aparência, arte,
engano, ótica, necessidade do perspectivístico e do erro"[5].
CORBANEZI, Eder. Perspectivismo e relativismo na filosofia de
Nietzsche. São Paulo: Editora Unifesf, 2021. p. 134 e 135.
Com Platão, se inicia um grande mito ocidental: o de que há
uma antinomia entre saber e poder. Se há o saber, é preciso que ele renuncie ao
poder. Onde se encontra saber e ciência em sua verdade pura, não pode mais
haver poder político.
Esse grande mito precisa ser liquidado. Foi esse mito que
Nietzsche começou a demolir ao mostrar, em numerosos textos *, que por trás de
todo saber, de todo conhecimento, o que está em jogo é uma luta de poder. O
poder político não está ausente do saber, ele é tramado com o saber.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2005. p. 51.
[1] NIETZSCHE, Friedrich. O Anticristo, § 9.
[2] NIETZSCHE, Friedrich. Fragmento póstumo 26 [119] do verão/outono de 1884.
[3] NIETZSCHE, Friedrich. Para além do bem e do mal. Prefácio.
[4] NIETZSCHE, Friedrich. Fragmento póstumo 26 [178] do verão/outono de 1884.
[5] NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia, "Tentativa de Autocrítica" § 5.
MULTIPERSPECTIVISMO:
FAKE NEWS: NIETZSCHE PROVAVELMENTE AS ENTENDERIA COMO VERDADES DE POUCO VALOR. POR QUÊ?
1 - MUITAS VEZES NÃO SÃO SINCERAS, ISTO É, NÃO CORRESPONDEM A UMA CRENÇA AUTÊNTICA NAQUILO QUE É AFIRMADO
2 - FREQUENTEMENTE NÃO SÃO MULTIPERSPECTIVISTAS, ISTO É, RECUSAM-SE A VER O MUNDO DE UMA OUTRA FORMA QUE NÃO SEJA A DA PERSPECTIVA ABSOLUTISTA DA MINHA OPINIÃO, OU DA OPINIÃO DO MEU GRUPO.
3 - FREQUENTEMENTE, SÃO FRUTO DA MANIPULAÇÃO DE POUCOS (QUE NÃO ACREDITAM NA SUA VERACIDADE) SOBRE MUITOS (QUE ACEITAM ESTA VERACIDADE DE FORMA SUBMISSA, IRREFLETIDA E ACRÍTICA).
EXERCÍCIOS PARA TREINAR O PERSPECTIVISMO:
Respostas no final do módulo
Informações úteis para o comentário escrito:
<b> conteúdo </b> – transforma o conteúdo em negrito;
<i> conteúdo </i> – transforma o conteúdo em itálico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário