Módulo 16

 


 

ARTE PARA NIETZSCHE





 

1  - A ARTE NÃO MENTE: ASSUME QUE É PERSPECTIVISTA, AFETIVA, INTERESSADA, ASSUME QUE NÃO É NEUTRA NEM OBJETIVA, QUE INTERPRETA A REALIDADE.

 

                Como a arte só é possível enquanto mentira?

         A arte detém a alegria de nos despertar das crenças *: mas não somos enganados! Pois então a arte cessaria.

         A arte coloca-nos à deriva através de uma ilusão – e nós não somos enganados *.

         A arte acolhe * a aparência enquanto aparência, então não quer enganar, é verdadeira.

NIETZSCHE, Friedrich. O livro do filósofo. São Paulo: Centauro, 2004.  § 184 - p.83 e 84.

 

         A reflexão sobre a arte é uma preocupação constante da reflexão de Nietzsche. * A arte é também interpretação, o que implica reconfiguração, deformação, seleção da realidade: "A arte é justamente o que sublinha as linhas principais, conserva os traços decisivos, elimina muitas coisas" (Nietzsche, Fragmentos póstumos X, 26, [424]). Enquanto atividade interpretativa que se reconhece como tal (ao contrário do conhecimento[1] ou da moral, por exemplo), a arte se torna um modelo para pensar o conjunto das atividades humanas e, em particular, a atividade filosófica: "Todo o ser humano que 'julga' age como o artista: a partir de excitações, estimulações particulares, ele cria um todo, deixa de lado muitos detalhes particulares, e cria uma 'simplificação' (Nietzsche, Fragmentos póstumos X, 25, [333]). Como toda interpretação, a arte se caracteriza por uma tonalidade afetiva particular.

WOTLING, Patrick. Vocabulário de Friedrich Nietzsche. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 20.

 

2 - PARA NIETZSCHE, EMBORA A EXPERIÊNCIA HUMANA ESTEJA REPLETA DE SOFRIMENTO, HÁ UMA FORMA DE SUPERÁ-LO: A ARTE. A CONTEMPLAÇÃO DA ARTE EMBELEZA O SOFRIMENTO, DANDO-LHE UM CARÁTER HERÓICO, DIGNO E UNIVERSAL, ISTO É, MOSTRANDO-O NÃO COMO UM ACONTECIMENTO CASUAL, MAS COMO ALGO CONSTITUTIVO DA PRÓPRIA CONDIÇÃO HUMANA.

 

         A beleza que o homem cria artisticamente, Nietzsche considera sob o aspecto do seu efeito como uma "esplêndida ilusão", que só então converte a existência em geral em alguma coisa "digna de ser vivida".

NIEMEYER, Christian (org.) Léxico de Nietzsche. São Paulo: Edições Loyola, 2014. p. 61.

        

         A arte e nada como a arte! Ela é a grande possibilitadora da vida, a grande sedutora para a vida, o grande estimulante da vida...

         * A arte como a redenção do homem *, - daquele que não apenas vê o caráter terrível e problemático da existência, mas antes o vive e quer vivê-lo, do homem que é guerreiro trágico, do heroi.

         A arte como a redenção * para estados nos quais o sofrer é querido, transfigurado, divinizado.

A vontade de poder. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. § 853 - 2 p. 427.


     Como fenômeno estético a existência ainda nos é suportável, e por meio da arte nos são dados olhos e mãos e, sobretudo, boa consciência, para poder fazer de nós mesmos um tal fenômeno. Ocasionalmente precisamos descansar de nós mesmos, olhando-nos de cima e de longe e, de uma artística distância, rindo de nós ou chorando por nós; precisamos descobrir o herói e também o tolo que há em nossa paixão do conhecimento, precisamos nos alegrar com a nossa estupidez de vez em quando, para poder continuar nos alegrando com nossa sabedoria!

NIETZSCHE, Friedrich. Gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. § 107. p. 133.

 

3 - A ARTE POSSUI UM OBJETIVO MAIOR DO QUE MERAMENTE CRIAR OBRAS DE ARTE. A ARTE TEM COMO OBJETIVO MAIOR A CRIAÇÃO DE NOVOS VALORES, DE NOVAS VERDADES, DE NOVOS TIPOS DE VIDA, DE NOVOS SERES HUMANOS, E INCLUSIVE A CRIAÇÃO DO ARTISTA POR SI PRÓPRIO. COMPARATIVAMENTE FALANDO, A MERA CRIAÇÃO DE OBRAS DE ARTE É UM MOMENTO DE IMPORTÂNCIA MENOR NA EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA. A FILOSOFIA, TAL COMO NIETZSCHE A CONCEBE, DEVERIA SER UMA FORMA ESPECIAL DE ARTE, ISTO É, UMA ATIVIDADE CAPAZ DE CRIAR NOVAS E BELAS PERSPECTIVAS DA VERDADE, O QUE TERMINA TAMBÉM POR CRIAR NOVAS E BELAS REALIDADES.

 

         Na arte, principalmente, mas também no conhecimento (não diretamente artístico), concentram-se os esforços humanos para moldar e esquematizar o caos. *

         Nietzsche propõe um novo conceito de criação *. O contentamento humano mais elevado está no criar para além de si mesmo. Pressupondo dores, o processo de criação de novos pensamentos e valores assemelha-se à gravidez. O mundo que diz respeito ao homem é por ele criado, e marcado pelo perspectivismo e pelo caráter interpretativo humano. Se a "capacidade para criar" está presente em todo ser orgânico, no homem sobressaem afirmações artísticas próprias.

         O experimento de Nietzsche de criar novos valores possui um traço estético. Considerada a partir da vontade de potência (criadora), a arte passa a ser vista como a tentativa de criar tipos superiores de homem, de criar a si mesmos e suas formas de vida.

GEN - Grupo de Estudos de Nietzsche. Dicionário Nietzsche. São Paulo: Edições Loyola, 2016. p. 161 e 162.

 

         A arte deve, sobretudo e principalmente, embelezar a vida *. Após essa grande, imensa tarefa da arte, o que se chama propriamente de arte, a das obras de arte, não é mais que um apêndice: um homem que sente em si um excedente de tais forças embelezadoras procurará, enfim, desafogar esse excedente em obras de arte.

NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de poder. Humano demasiado humano II – Opiniões e sentenças... § 174 – p. 82 e 83.

 

         O filósofo-artista. Conceito mais elevado da arte. Acaso poderia o homem colocar-se assim tão distante dos outros homens, para plasmá-los?

NIETZSCHE, Friedrich. Vontade de poder. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008. § 795.  p. 397.


4 - A PRÓPRIA NATUREZA AGE COMO UMA FORÇA PRIMORDIAL DE CRIAÇÃO "ARTÍSTICA". A "MÃE NATUREZA" GERA ARTISTICAMENTE SEUS FILHOS, ISTO É, TODOS OS SERES MATERIAIS DA REALIDADE. TAMBÉM OS SERES HUMANOS NÃO PASSAM DE "OBRAS DE ARTE", CRIADAS COM A MESMA PERFEIÇÃO DE TODOS OS OUTROS SERES VIVOS EXISTENTES. OS SERES HUMANOS SÃO APENAS PEQUENOS EXEMPLOS DAS INÚMERAS, BELAS E INCONTÁVEIS CRIAÇÕES DE UM UNIVERSO "ARTISTA". A PRÓPRIA CRIAÇÃO HUMANA É, NO FUNDO, UMA CRIAÇÃO NATURAL

 

       No pensamento de * Nietzsche, a criação possui um caráter eminentemente artístico. * O próprio mundo é visto como uma obra de arte que cria e perpetua a si mesmo, sem referências à metafísica transcendente. O conceito nietzschiano de criação * abarca o mundo em seu todo.

GEN - Grupo de Estudos de Nietzsche. Dicionário Nietzsche. São Paulo: Edições Loyola, 2016. p. 161.


5 - MUITOS SENTIMENTOS E ESTADOS DE ESPÍRITO QUE OS HOMENS ANTIGOS E MEDIEVAIS EXPERIMENTAVAM NA RELIGIÃO, OS HOMENS MODERNOS, ESPECIALMENTE DEPOIS DO ILUMINISMO, PASSARAM A EXPERIMENTAR NA ARTE. PARA NIETZSCHE, SE NO PASSADO O SENTIDO MAIOR DA EXISTÊNCIA HUMANA ERA BUSCADO NA RELIGIÃO, COM A CHEGADA DA MODERNIDADE, ESTE SENTIDO PASSA A SER BUSCADO NA ARTE

 

       Só como fenômeno estético podem a existência e o mundo justificar-se eternamente.

NIETZSCHE, Friedrich. O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 47.

 

Vivificação da arte - A arte ergue a cabeça quando as religiões perdem terreno. Ela acolhe muitos sentimentos e estados de espírito gerados pela religião, toma-os ao peito e com isso torna-se mais profunda, mais plena de alma, de modo que chega a transmitir elevação e entusiasmo, algo que antes não podia fazer. A riqueza do sentimento religioso, que cresceu e se tornou torrente, continuamente transborda e deseja conquistar novos domínios: mas o crescente Iluminismo abalou os dogmas da religião e instilou uma radical desconfiança: assim, expulso da esfera religiosa pelo Iluminismo, o sentimento se lança na arte.

NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. § 150. p. 109.


[1] Tanto o conhecimento científico quanto o conhecimento filosófico que não reflete a respeito do seu próprio perspectivismo.






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Quadro denominado "Friedrich Nietzsche", criado em 1906 pelo grande pintor expressionista norueguês Edvard Munch.


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