PLATÃO E O MUNDO DAS IDEIAS
AS IDÉIAS, O DEMIURGO E A MATÉRIA NA METAFÍSICA DE PLATÃO
PLATÃO CONSIDERA DIVINAS AS DIVERSAS “IDEIAS” QUE DERAM ORIGEM A TODOS OS SERES QUE EXISTEM NA NATUREZA
As ideias são divinas, segundo a própria expressão do Fédon (livro de Platão), em virtude da sua pureza *, da sua perfeição. * As Ideias são de igual modo divinas porque * são fundamento de tudo na ordem * da existência.
MAIRE, Gaston. Platão. Lisboa: Edições 70, 2002. p. 43.
Platão divide a realidade em mundo sensível e mundo das Idéias. As Idéias (também chamadas de Protótipos, Formas) são modelos únicos e perfeitos de todas as coisas que existem. As Ideias não têm matéria: por isto são inacessíveis aos sentidos (invisíveis, sem peso etc.). Elas também não estão sujeitas a deterioração e à transformação. As ideias são filhas da permanência e só podem ser conhecidas através da inteligência.
Vamos dar um exemplo para entender melhor o que são as Ideias.
Ao entrar em uma loja de móveis com estoque variado, você se depara com inúmeros tipos de cadeira. Umas são de madeira, outras estofadas. Há cadeiras de espaldar alto e de espaldar baixo. Umas são modernas, outras tradicionais. O que têm em comum esses formatos tão diferentes?
É comum a esses formatos justamente o fato de todos “caberem” dentro de uma mesma definição: de cadeira! Em geral, todos concordarão que cadeira é um objeto com pelo menos um ponto de apoio no chão, com encosto e que usamos para sentar. Se é verdadeira esta definição, teremos chegado àquilo que Platão chamou de Ideia. Neste caso, diria o filósofo, estamos diante de A Cadeira.* Uma vez atingida a Ideia clara, as cadeiras diferentes (inclusive as quebradas, as que ainda não vimos e as que nunca veremos) poderão ser apontadas como variações de A Cadeira.
Platão estende tal raciocínio a todas as coisas. Haveria uma única Idéia para cada série de homens, de mulheres, para cada espécie de animais e de objetos. Assim, O Homem, A Mulher, A Pulga, A Árvore, O Bem, O Belo se situariam na dimensão superior da realidade simbólica *.
Se o modelo é único, por que então, na nossa experiência, os seres de um mesmo tipo são diferentes, variados? Platão explica que um personagem divino, o Demiurgo (palavra que significa artesão) contempla as Ideias e, utilizando-se de uma matéria-prima[1], molda os seres. Mas a matéria-prima resiste a esta fabricação e daí resultam os seres diferentes.
RIBEIRO, Jorge Claudio. Platão: ousar a utopia. São Paulo: FTD, 1994. p. 43 e 44.
Para o espírito de Platão, nada seria mais real e mais importante que a beleza ideal e a bondade absoluta. Essas coisas tornaram-se para ele o foco do conhecimento e a substância da verdade permanentemente válida. Nelas viu os grandes padrões de referência que estão por trás da face mutável do mundo sensível, e chamou esses padrões de ‘ideias’ *. Uma Ideia platônica não é um pensamento no espírito de alguém, e sim algo que existe por si mesmo como parte imutável da estrutura da realidade. * Então o mundo de Ideias de Platão é composto de coisas ideais ou modelos, tais como Beleza, Igualdade, Circularidade, Saúde, Justiça. As Ideias são invisíveis e intangíveis, e só podem ser percebidas pelo espírito depois de uma preparação conveniente e de exercícios. Elas existem externamente, com uma natureza transcendente que as põe à parte de nosso mundo, mas por um processo de ‘criação’ o mundo visível foi modelado de conformidade com elas, e suas qualidades individuais estão disseminadas nas coisas específicas que tocamos e vemos. Quando nos admiramos diante da beleza de uma face ou comentamos a justiça de uma decisão, estamos, na opinião de Platão, generalizando nossas experiências e tornando-as inteligíveis à luz das Ideias que vislumbramos inerente nelas. Coisas belas, diz ele, tornam-se belas graças à presença da beleza nelas, e o mesmo é verdadeiro para as coisas justas. Em geral, a presença de uma Ideia é a causa das qualidades características dos objetos específicos.
LUCE, J.V. Curso de filosofia grega. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 101 e 102.
UM OUTRO SER DIVINO, PARA PLATÃO, É O DEMIURGO, RESPONSÁVEL DIRETO PELA CONSTRUÇÃO DE CADA ASPECTO CONCRETO DO UNIVERSO
O demiurgo * é * o segundo domínio da Divindade[2] *. O que é esse demiurgo? A sua função define completamente o seu ser: ele é o Obreiro que molda a matéria à imagem do Inteligível (as ideias) que serve de modelo e introduz assim na matéria ordem e harmonia, fazendo do mundo visível um Cosmos que é belo. * O mundo ordenado e harmonioso quer uma Causa inteligente. Esta Causa é o Demiurgo (é assim que se traduz a palavra grega demiourgós, significando o Obreiro, o Artífice).
MAIRE, Gaston. Platão. Lisboa: Edições 70, 2002. p. 46.
No pensamento * de Platão, o demiurgo é um deus ou o princípio organizador do universo, que trabalha a matéria (o caos) para dar-lhe uma forma. Ele não a cria, apenas a modela contemplando o mundo das ideias.
MARCONDES, Danilo e JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. verbete demiurugo. p. 65.
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1994. p.200.
[1] Trata-se da matéria caótica, degradada, ainda sem forma, que está sempre presente como um princípio do universo oposto ao princípio divino. A matéria não é, na metafísica platônica, um princípio intencional e maligno, mas meramente desorganizado e ignorante.
[2] A Ideia é a primeira dimensão da divindade.
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